Mito e Filosofia
O homem pode
ser identificado e caracterizado como um ser que pensa e cria explicações.
Criando explicações, cria pensamentos. Na criação do pensamento, estão
presentes tanto o mito como a racionalidade, ou seja, a base mitológica,
enquanto pensamento por figuras, e a base racional, enquanto pensamento por
conceitos. Esses elementos são constituintes do processo de formação do
conhecimento filosófico. Este fato não pode deixar de ser considerado, pois é a
partir dele que o homem desenvolve suas idéias, cria sistemas, elabora leis,
códigos, práticas.
Compreender
que o surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, foi
decisivo no desenvolvimento da cultura da civilização ocidental é condição para
que se entenda a conquista da autonomia da razão (lógos) diante do mito. Isso
marca o advento de uma etapa fundamental na história do pensamento e do
desenvolvimento de todas as concepções científicas produzidas ao longo da
história humana.
O conhecimento
de como isso se deu e quais foram as condições que permitiram a passagem do
mito à filosofia elucidam uma das questões fundamentais para a compreensão das
grandes linhas de pensamento que dominam todas as nossas tradições culturais.
Deste modo, é de fundamental importância que o estudante do Ensino Médio
conheça o contexto histórico e político do surgimento da filosofia e o que ela
significou para a cultura. Esta passagem do pensamento mítico ao pensamento
racional no contexto grego é importante para que o estudante perceba que os mesmos
conflitos entre mito e razão, vividos pelos gregos, são problemas presentes,
ainda hoje, em nossa sociedade, na qual a própria ciência depara-se com o
elemento da crença mitológica ao apresentar-se como neutra,
escondendo interesses políticos ou econômicos em sua roupagem sistemática, por
exemplo.
Ao escrever
sobre o conteúdo estruturante Mito e Filosofia, os autores preocupam-se em
desenvolver textos que permitam aos estudantes de filosofia fazerem a
experiência filosófica a partir de três recortes, que são: Mito e Filosofia; O
Deserto do Real; Ironia e Filosofia. Além destes, muitos outros recortes são
possíveis dentro deste Conteúdo Estruturante. Mito e Filosofia: trata do
problema da ordem e da desordem no mundo. O homem, ao procurar a ordem do mundo,
cria tanto o mito como a filosofia. Muitos povos da antigüidade experimentaram
o mito, que é um pensamento por imagens. Os gregos também fizeram a experiência
de ordenar o mundo por meio do Mito. Estes perceberam que o Mito era um jeito
de ordenar o mundo. A experiência política grega, ao longo dos anos, trouxe a
possibilidade do pensamento como lógos (razão), pois a vida na pólis impôs
exigências que o mito já não satisfazia. Mas será que com a filosofia o mito
desaparece? Será que em nossa sociedade ainda nos orientamos pelo pensamento
mítico? Além dessas e outras questões, esse conteúdo procurará as conexões
sociológicas e históricas para entender o mito e o nascimento da filosofia na
Grécia.
O Deserto do
Real: trata do problema da distinção entre pensamento crítico e não crítico. O
que é real, o que parece ser real? Nestas Folhas é proposto que se pense na
realidade virtual, tão presente em nosso cotidiano. Quais as conseqüências
disso para a constituição do nosso pensamento? Além disso, trata-se da condição
histórica do surgimento da Filosofia, o que nos permite perceber a importância
da Filosofia para a constituição da democracia e do pensamento político. O
texto propõe interdisciplinaridade com a Sociologia e a História. Ironia e
Filosofia: propõe a ironia como experiência do método filosófico. Basta olhar
para nosso dia-a-dia para perceber a ironia. O mundo é irônico, enquanto alguns
se fecham em suas casas outros estão presos em sua condição social. É neste
contexto que a ironia torna-se uma possibilidade de exercício do pensamento
filosófico. Sócrates é apresentado como o primeiro filósofo a utilizar a ironia
para levar seus discípulos rumo à aporia para que melhor se apopriassem do
pensamento, a maiêutica. Além de Sócrates, Marx é um filósofo que mostra a
sociedade capitalista como sendo uma grande ironia, com seus ideais de
liberdade e democracia, mas que de fato não dá a todos esse direito. A música e
a literatura são possibilidades de se desenvolver a ironia, seja para lutar
contra o poder político autoritário, seja para questionar e criticar a
sociedade burguesa falso moralista e conservadora.
Os autores
apresentam propostas de atividades que podem possibilitar o exercício do
pensamento, do estudo e da criação de conceitos. Essas atividades levam
estudantes e professores a filosofar por meio dos conteúdos da História da
Filosofia. Esse exercício do filosofar
ocorrerá por meio da leitura, do debate, da argumentação, da exposição e
análise do pensamento. A escrita constitui-se como elemento importante de
registro e sistematização, sem a qual o discurso pode perder-se no vazio. É
importante lembrar que o processo do filosofar se dá por meio da investigação
na qual estudantes e professores descobrem problemas, mobilizam-se na obtenção
de soluções filosóficas, estudam a História da Filosofia buscando no trabalho
com os conceitos o caminho do filosofar e recriar conceitos.